Dormir bem na quarentena não tem sido uma tarefa fácil. Sonhos agitados, insônia e pesadelos passaram a fazer parte da rotina de muita gente. De fato, o período de quarentena e isolamento social impactou as noites de descanso da população e, de uma forma ou de outra, a sensação de que o sono na quarentena está pior se tornou uma realidade.
“A pandemia de covid-19 causou grande impacto na qualidade do sono de pessoas com alterações prévias ou não. No Brasil, um estudo realizado com 45.160 pessoas mostrou que 48% delas
tiveram piora dos distúrbios do sono durante este período”, afirma Camila Galvão, neurologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo.
De acordo com a médica, os sintomas mais frequentes relatados na fase de quarentena foram: insônia (inicial ou intermediária), sono entrecortado (despertares noturnos) e sono não reparador. Também foi possível observar uma maior incidência de sonhos vívidos e pesadelos – impactos muito comuns no sono de pessoas que fazem uso de antidepressivos, segundo a neurologista.
Por que estamos dormindo mal na quarentena?
Situações de trauma ou mesmo desastres aumentam significativamente o estresse de um indivíduo e levam, consequentemente, a mudanças no sono. Alterações comportamentais na rotina de
cada pessoa também trazem impactos nesse sentido.
“O aumento nos índices de estresse, ansiedade e depressão, mudança na rotina de hábitos diários, que compreendem alterações nos hábitos alimentares, horários das atividades laborais e/ou educacionais e redução da atividade física estão correlacionados com o comprometimento do sono”, explica Camila.
Impactos da má qualidade do sono
Além do desconforto, esse cenário também afeta diretamente a qualidade de vida e o funcionamento do organismo. Os efeitos são notados na disposição para atividades do dia a dia e até mesmo no ganho de peso que tantas pessoas relataram nesta quarentena.
“Os distúrbios do sono estão correlacionados com o aumento de peso e adiposidade. Existem diversos estudos epidemiológicos que comprovam este fato e há uma possível relação entre alterações endócrinas e transtornos do sono que levam ao aumento de peso e até obesidade, além de piorarem a disposição física, a sonolência diurna e a produtividade”, acrescenta a médica.
Outros efeitos da alteração na qualidade do sono podem se expressar em quadros de saúde mais graves, como:
- Perda de memória
- Infarto do miocárdio
- Acidente vascular cerebral (AVC)
- Diabetes
“Inclusive, está diretamente correlacionado ao aumento da mortalidade associada a fatores de risco cardiovasculares. Uma teoria proposta para explicar essa relação seria que, durante os períodos de sono, as atividades de reparo e restauração são maiores do que nos períodos de vigília, e isso seria necessário à manutenção e equilíbrio fisiológico”, aponta Camila.
Como regular o sono na quarentena
Para regular o sono durante a pandemia, algumas práticas se tornam fundamentais para que esse objetivo seja alcançado. Segundo Camila, vale tentar manter uma rotina diária com alimentação
saudável e medidas de higiene do sono, como:
Reservar o ambiente de dormir apenas para o sono
- Manter o local tranquilo e escurecido
- Desacelerar as atividades à medida que o horário de dormir se aproxima
- Evitar aparelhos eletrônicos (como celular e computador) à noite e no quarto
- Praticar o relaxamento e a meditação para iniciar o sono
Praticar atividades físicas que melhoram a qualidade do sono, como corridas e caminhadas, também é recomendado. Porém, sempre com a atenção ao horário, para que sejam evitados períodos de final da tarde e à noite, pois podem levar à insônia ao invés do relaxamento.
“O ideal é fazer o ritual noturno e implementar medidas de higiene do sono e atividade física. A medicina tradicional chinesa também recomenda chá de jasmim para um sono tranquilo”, adiciona a neurologista, sobre a possibilidade de usar recursos naturais para melhorar do sono.
Segundo Camila, é possível que os transtornos no sono desenvolvidos durante a pandemia não sejam resolvidos rapidamente, mas apenas após um longo período de adaptação. Para isso, a neurologista explica que uma pessoa pode precisar fazer adaptações em sua rotina diária e até mesmo realizar um tratamento com acompanhamento médico. (Por Maria Beatriz Melero/Redação Minha Vida)
Fonte: Site Minha Vida
Foto: 123 RF