Dia Internacional da Mulher| Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável

O avanço da igualdade de gênero no contexto da crise climática e a redução do risco de desastres é um dos maiores desafios globais do século XXI.  As questões de mudança climática e sustentabilidade tiveram e continuarão a ter impactos severos e duradouros em nosso meio ambiente, desenvolvimento econômico e social.

Por isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu o tema “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável” para celebrar  o Dia Internacional da Mulher, 8 de marco.

A data será marcada por um evento virtual de alto nível na terça-feira (8), das 10h às 11h30 (horário de Nova Iorque). Participarão o secretário-geral das Nações Unidas, as presidências da Assembleia Geral e da Comissão sobre a Situação das Mulheres, a diretora executiva da ONU Mulheres, bem como ativistas e celebridades da igualdade de gênero e mudanças climáticas. O evento será seguido por um painel de discussão de alto nível e apresentações musicais.

O tema deste ano reconhece a contribuição de mulheres e meninas em todo o mundo, que estão liderando a tarefa de adaptação às mudanças climáticas, mitigação e resposta, para construir um futuro mais sustentável para todas as pessoas e para o Planeta.

Vulnerabilidade das mulheres no contexto climático    

As mulheres estão cada vez mais sendo reconhecidas como mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas do que os homens, pois constituem a maioria dos pobres do mundo e são mais dependentes dos recursos naturais que as mudanças climáticas mais ameaçam.

Mulheres como agentes de mudança

Ao mesmo tempo, mulheres e meninas são líderes e agentes de mudança eficazes e poderosos para a adaptação e mitigação do clima. Elas estão envolvidas em iniciativas de sustentabilidade em todo o mundo, e sua participação e liderança resultam em ações climáticas mais eficazes.

Continuar a examinar as oportunidades, bem como as restrições, para capacitar mulheres e meninas a terem voz e serem participantes iguais na tomada de decisões relacionadas às mudanças climáticas e à sustentabilidade é essencial para o desenvolvimento sustentável e maior igualdade de gênero. Sem igualdade de gênero hoje, um futuro sustentável e um futuro igualitário permanecem fora de nosso alcance.

Multijornada: desafio da mulher contemporânea

Outro tema recorrente diz respeito aos desafios envolvendo os múltiplos papeis que a mulher desempenha na sociedade. Uma pesquisa acadêmica publicada na Revista Caribeña de Ciências Sociais, em 23 de março de 2018, com o título Multijornada: desafios da mulher contemporânea para gerenciar família, trabalho e estudo, realizada por Luciana Scherer, Luís Henrique Franqui e Louise de Lira Roedel Botelho, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio, revela que os termos “dupla” e “tripla” jornadas já estão ficando no passado, pois cresce o número de mulheres nos bancos das universidades, seja na graduação ou na pós-graduação, cursando especialização, mestrado ou doutorado.

Segundo o estudo, as mulheres que trabalham e cuidam da casa desempenham a dupla jornada. Já as que são mães e as que têm pessoas idosas para cuidar, acumulando com a carreira profissional, submetem-se  à tripla jornada. E aquelas que, além de tudo isso, dedicam-se ao aprimoramento educacional sofrem os efeitos da multijornada.

Trabalhar, cuidar da casa, dos filhos, dos idosos e ainda cursar mestrado ou doutorado é tarefa para poucos, ou melhor, para poucas, pois nem todas conseguem gerenciar uma multijornada. Mas existem aquelas, cujas realidades foram captadas na pesquisa de campo que optaram por encarar múltiplas atividades em busca da realização pessoal e profissional.

A voz das mulheres 

A pesquisa deu voz a essas mulheres. Nas entrevistas, elas relatam as dificuldades de conciliar a multijornada, bem como a discriminação que sofrem no ambiente de trabalho, uma vez que a maternidade ainda é vista com “maus olhos” pelas empresas.

Confira alguns depoimentos:  

  • Eu casei bastante jovem, e logo após já tive o primeiro filho. Após a faculdade eu segui com a especialização, aí veio o segundo filho. Não sei de que forma, mas tive períodos que eu trabalhava 60 horas semanais – 40 horas na prefeitura e mais 20 horas como professora e iniciei o mestrado. No meio disso tudo eu me vi demandada por todos os lados: com um marido, com dois filhos, com a casa, com meus dois trabalhos e com o mestrado (Entrevistada M2).
  • Antes de eu engravidar eu trabalhava em um escritório de consultoria e fui convidada a ministrar duas disciplinas em uma faculdade privada. Lá pelo segundo ano, eu senti necessidade de entrar no mestrado. Aí, junto com o mestrado veio a gravidez. Aí foi uma confusão, um malabarismo para conciliar tudo: dois trabalhos, curso de mestrado, casa, gravidez, e com a gravidez tinha médico, nutricionista, exames (Entrevistada M5).
  • Eu fiz a minha dissertação da meia noite às sete da manhã, entre escritas e dormidas. Era o único tempo que eu tinha para mim, sem a preocupação com trabalho, com filhos, etc. Era quando eu encontrava o silêncio e a paz necessária para realizar essa empreitada (Entrevistada M2).
  • Não sei como essas relações se estabelecem, mas acho que mesmo a gente brigando com aquilo que se diz o que é coisa de homem e coisa de mulher, nós mulheres acabamos aceitando e abraçando as questões da casa. Mercado, por exemplo: a lista de compras, se falta fruta, se falta material de limpeza e tudo mais, sou eu a responsável. Muitas vezes eu estou trabalhando e a na agenda já anotando a lista de compras (Entrevistada M5).
  • Meu orientador de mestrado – homem – dizia com bastante frequência que preferia não trabalhar com mulher, porque mulher tem filho, mulher tem muitas outras preocupações do que um homem. Para ele, mulher não tinha que estudar, tinha que se preocupar com a casa e deixar o homem produzir e trabalhar (Entrevistada D1).
  • “(…) o doutorado custou meu casamento. Acabei me distanciando do meu marido em função de priorizar as atividades do estudo” (D5).

 

De acordo com a pesquisa, as principais ideias que emergem de forma sistemática nas falas dessas mulheres são:

As rotinas do lar e a divisão entre o público e o privado;

A necessidade de uma infraestrutura de apoio;

O sentimento de discriminação pelo fato de ser mulher;

– A maternidade como uma barreira para o desafio da carreira.

O estudo conclui: “Essa clareza, essa exposição dos fatos faz com que se conheça melhor os riscos,  desafios, dificuldades e, a partir disso, mulheres possam conduzir suas carreiras da melhor forma possível, como assim considerarem.  Por meio de conhecimento, de histórias de vida, é possível construir conhecimento acerca dos desafios da mulher contemporânea para gerenciar família, trabalho e estudo, ou seja, para administrar uma multijornada, como parte de suas escolhas de vida”.


 

Por: Comunicação/Postal Saúde
Fontes: ONU Mulheres – Brasil
Revista Caribeña de Ciências Sociais
Fotos: Dreamstime

 

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