A varíola dos macacos não é uma doença nova. Foi descoberta pela primeira vez em um macaco em 1958, o que levou à origem do nome. No entanto, a primeira infecção em um ser humano foi descoberta em 1970 em uma criança na República Democrática do Congo, no continente africano.
O vírus Monkeypox causa uma doença com sintomas semelhantes à varíola comum, mas menos graves. A varíola foi erradicada em 1980, mas a varíola dos macacos infecta pessoas em todos os continentes. De acordo com levantamento realizado pela CNN, ao menos 64 países confirmaram casos da doença.
Diante da circulação de uma doença incomum, surgem dúvidas como os principais sintomas, formas de transmissão, riscos para a saúde, disponibilidade de vacinas e maneiras de prevenir o contágio. Abaixo, reunimos mitos e verdades que ajudam a esclarecer as principais características da varíola dos macacos.
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É mito que a varíola dos macacos seja transmitida da mesma forma que a Covid-19
A principal forma de transmissão da varíola dos macacos é por meio do contato próximo com lesões na pele, secreções respiratórias ou por objetos pessoais contaminados, como roupas de cama e de banho.
No caso da Covid-19, a transmissão acontece de maneira mais fácil. As evidências atuais sugerem que o SARS-CoV-2, da mesma forma que outros vírus respiratórios, é transmitido principalmente por três modos: contato, gotículas ou por aerossol.
De acordo com a OMS, a transmissão da varíola por partículas respiratórias por gotículas geralmente requer contato pessoal prolongado, o que coloca em maior risco os profissionais de saúde, membros da família e outros contatos próximos de pessoas infectadas.
A transmissão também pode ocorrer através da placenta da mãe para o feto (o que pode levar à varíola congênita) ou durante o contato próximo no momento e após o nascimento.
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É mito que a doença afeta apenas gays e bissexuais
O vírus da varíola dos macacos pode afetar qualquer pessoa, de qualquer orientação sexual, independentemente das práticas e dos hábitos sexuais.
A OMS afirma que a maioria dos casos notificados até agora foi identificada por meio de serviços de saúde sexual ou de unidades de saúde primária ou secundária, envolvendo principalmente, mas não exclusivamente, homens que fazem sexo com homens.
A terminologia “homens que fazem sexo com homens”, também chamada HSH, é uma classificação técnica adotada na área da saúde que inclui homossexuais, bissexuais e pessoas que não se identificam com alguma dessas orientações.
“Embora 98% dos casos até agora estejam entre homens que fazem sexo com homens, qualquer pessoa exposta pode pegar a varíola dos macacos, razão pela qual a OMS recomenda que os países tomem medidas para reduzir o risco de transmissão a outros grupos vulneráveis, incluindo crianças, gestantes e aqueles que são imunossuprimidos”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, à imprensa.
Entre as hipóteses discutidas pela comunidade científica para explicar a prevalência atual do surto entre essa população está a possibilidade de o vírus ter entrado em circulação em redes sexuais interconectadas na comunidade HSH.
“Com base nos relatos de casos até o momento, esse surto está sendo transmitido por meio de redes sociais conectadas principalmente por meio de atividade sexual, envolvendo principalmente homens que fazem sexo com homens. Muitos – mas não todos os casos – relatam parceiros sexuais casuais ou múltiplos, às vezes associados a grandes eventos ou festas”, disse Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS para a Europa.
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É mito que os macacos transmitam a doença no surto atual
A varíola dos macacos é uma doença viral transmitida aos seres humanos a partir de animais, considerada uma zoonose.
O nome da doença tem origem na descoberta inicial do vírus em macacos em um laboratório dinamarquês em 1958. No entanto, o reservatório animal atual permanece desconhecido, embora seja provável que esteja entre os roedores, de acordo com a OMS.
Os macacos não estão associados ao surto atual que atinge múltiplos países.
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É mito que todas as pessoas devem ser vacinadas contra a varíola neste momento
A OMS recomenda a vacinação contra a varíola para grupos prioritários, incluindo profissionais de saúde em risco, equipes de laboratório que atuam com ortopoxvírus, especialistas em análises clínicas que realizam diagnóstico para a doença, pessoas que tiveram contato com casos confirmados, além daqueles com múltiplos parceiros sexuais.
As recomendações foram publicadas em um guia a partir da consultoria do Grupo Consultivo Estratégico de Peritos (SAGE, na sigla em inglês). No documento, a OMS enfatiza que a vacinação em massa não é necessária nem recomendada para varíola no momento.
Para pessoas que tiveram contato com casos confirmados da doença, a OMS recomenda a vacinação, como profilaxia pós-exposição (PEP), com uma vacina de segunda ou terceira geração. A vacina deve ser aplicada preferencialmente dentro de quatro dias após a primeira exposição para prevenir o início da doença.
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É verdade que o vírus se espalha por múltiplos países pela primeira vez
Desde o início de maio, casos de varíola dos macacos foram relatados em países onde a doença não é endêmica. Além disso, casos continuam sendo reportados em vários países endêmicos da África Ocidental ou Central.
A maioria dos casos confirmados com histórico de viagens relatou passagem por países da Europa e América do Norte.
Esta é a primeira vez que muitos casos e aglomerados de varíola dos macacos foram relatados simultaneamente em países não endêmicos e endêmicos em áreas geográficas muito díspares.
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É verdade que a transmissão sexual está em investigação
O contato físico próximo é um fator de risco conhecido para a transmissão da varíola dos macacos. No entanto, segundo a OMS, não está claro neste momento se o contágio pode acontecer especificamente por meio de vias de transmissão sexual.
Pesquisadores encontraram DNA viral no sêmen de alguns pacientes, mas não têm certeza de que esta seja uma via eficaz para a transmissão. A OMS, que analisa os relatos dos estudos, afirma que novas pesquisas são necessários para entender melhor esse risco, segundo a OMS.
O vírus é transmitido de uma pessoa para outra principalmente pelo contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama e de banho. A doença também pode ser transmitida pelo contato com a pele durante o sexo, incluindo beijos, toques, sexo oral e com penetração com alguém que tenha sintomas.
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É verdade que a maior parte dos sintomas tende a desaparecer espontaneamente
Os cuidados clínicos para a varíola dos macacos são voltados para o alívio dos sintomas, além do gerenciamento de complicações e prevenção de sequelas a longo prazo. Os pacientes devem receber líquidos e alimentos para manter o estado nutricional adequado. Infecções bacterianas secundárias devem ser tratadas conforme indicado.
Neste momento, há um medicamento antiviral chamado tecorivimat aprovado em janeiro pela Agência Europeia de Medicamentos para infecções associadas ao ortopovírus, incluindo a varíola dos macacos. A autorização foi feita com base em modelos animais e dados de segurança e eficácia em humanos. O medicamento ainda não está amplamente disponível.
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É verdade que a varíola dos macacos apresenta baixa letalidade
Existem dois grupos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central).
As infecções humanas com o tipo de vírus da África Ocidental parecem causar doenças menos graves em comparação com o grupo viral da Bacia do Congo, com uma taxa de mortalidade de 3,6% em comparação com 10% para o da Bacia do Congo.
“A coisa mais importante sobre a varíola dos macacos é que ela causa uma erupção cutânea que pode ser desconfortável, pode causar coceira e pode ser dolorosa. Portanto, a coisa mais importante sobre cuidar de alguém com essa doença é basicamente cuidar da pele e cuidar de quaisquer sintomas que alguém possa ter, como dor ou coceira”, afirma a cientista Rosamund Lewis, líder técnica sobre varíola dos macacos do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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É verdade que as lesões podem se espalhar em diversas partes do corpo
O período de incubação do vírus é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias. Os sinais e sintomas da doença podem durar entre duas e quatro semanas.
A doença começa, na maior parte dos casos, com uma febre súbita, forte e intensa. O paciente também tem dor de cabeça, náusea, exaustão, cansaço e fundamentalmente o aparecimento de gânglios (inchaços popularmente conhecidos como “ínguas”), que podem acontecer tanto na região do pescoço, na região axilar, como na região genital.
A manifestação na pele acontece na forma de bolhas ou lesões que podem aparacer em diversas partes do corpo, como rosto, mãos, pés, olhos, boca ou genitais.
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É verdade que o surto atual tem apresentado sintomas novos da doença
A apresentação clínica dos casos de varíola associada a este surto tem sido atípica em comparação com relatos previamente documentados.
Segundo a OMS, muitos casos em áreas recentemente afetadas não estão apresentando o quadro clínico descrito classicamente para varíola (febre, linfonodos inchados, seguido de erupção cutânea).
As características atípicas descritas incluem:
– apenas algumas ou mesmo apenas uma única lesão
– ausência de lesões de pele em alguns casos, com dor anal e sangramento
– lesões na área genital ou do ânus que não se espalham mais
– lesões que aparecem em diferentes estágios de desenvolvimento
– aparecimento de lesões antes do início da febre, mal-estar e outros sintomas
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É verdade que a vacina contra a varíola comum oferece proteção contra a varíola dos macacos
A vacinação contra a varíola comum é cerca de 85% eficaz na prevenção da varíola dos macacos, o que indica que a imunização prévia pode resultar em doença mais leve, segundo estudos observacionais.
A OMS não recomenda a vacinação em massa da população como medida de combate à varíola dos macacos, mas orienta a vacinação direcionada para pessoas expostas a alguém com a doença e para aqueles com alto risco de infecção.
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É verdade que a doença apresenta mais risco para algumas pessoas
Qualquer pessoa que tenha contato físico próximo com alguém que tenha sintomas de varíola dos macacos ou com um animal com o vírus corre o maior risco de infecção. As pessoas vacinadas contra a varíola apresentam proteção contra a infecção por monkeypox.
Recém-nascidos, crianças e pessoas com deficiências imunológicas podem estar em risco de sintomas mais graves e de morte por varíola dos macacos. Os profissionais de saúde também estão em maior risco devido ao aumento da exposição ao vírus.
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É verdade que o número de casos existente possa ser maior do que o registrado
A OMS estima que o número real de casos da doença no mundo esteja subestimado, em parte devido à falta de reconhecimento clínico precoce de uma infecção anteriormente conhecida em apenas alguns países, e a mecanismos de vigilância limitados em muitos países para uma doença anteriormente “desconhecida” para a maioria dos sistemas de saúde.
As infecções associadas aos cuidados de saúde não podem ser descartadas (embora desconhecidas até o momento no surto atual). Existe um potencial de aumento do impacto na saúde com disseminação mais ampla em grupos vulneráveis, pois a mortalidade foi relatada anteriormente como mais alta entre crianças e adultos jovens, e indivíduos imunocomprometidos, incluindo pessoas que vivem com infecção não controlada pelo HIV, estão especialmente em risco de doença grave.
Fontes: Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
Foto: Reprodução