Nesta entrevista, conversamos com Juliana Moreira Oliveira Henriques, psicóloga da DASA – empresa parceira da Postal Saúde e responsável pelo serviço de Atenção Primária à Saúde – Estratégia Saúde & Família da Operadora. Ela explica como é feito o acolhimento de pessoas com ideação suicida (pensamentos sobre tirar a própria vida ou morrer), destaca a importância do tempo no processo de recuperação e reforça a necessidade de uma rede de apoio. A profissional fala ainda sobre a responsabilidade que todos devem ter ao abordar o tema do suicídio com embasamento técnico, científico e sem tabus. Acompanhe:
Postal Saúde – Como é feito o acolhimento da pessoa que chega ao consultório da DASA com ideação suicida?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – As equipes de Atenção Primária à Saúde, formadas por médicos de família, enfermeiras, psicólogas e psiquiatras, discutem em conjunto que direção tomar com relação ao tratamento de alguém que chega ao consultório com tanto sofrimento. A partir desse olhar ampliado é que montamos um plano de cuidado personalizado. De acordo com a situação, definimos quando e quantas vezes por semana será feito o tratamento e o monitoramento de saúde, fortalecendo e promovendo os fatores de proteção da saúde mental.
Postal Saúde – Existe um prazo mínimo para o tratamento e a recuperação?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – O prazo é individual, pois depende do tempo de cada um. Quando mais a pessoa tiver comprometimento com o tratamento, melhor será a recuperação. Em um quadro mais agudo, por exemplo, a melhora ocorre à medida que a medicação vai surtindo efeito, juntamente com a psicoterapia. As medicações psiquiátricas, como os antidepressivos, por exemplo, levam aproximadamente duas semanas para começar a fazer efeito. E que a gente não se iluda, pois o tratamento exige paciência. É claro que queremos que a pessoa melhore logo, mas isso só vai acontecer no tempo de cada um. Existe um sofrimento importante que precisa de um período para ser elaborado. Por isso, em casos de risco de suicídio, trabalhamos com a referência inicial de um ano para recuperação do paciente.
Postal Saúde – Qual a etapa mais delicada do tratamento?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – A equipe e a rede de apoio, a exemplo da família e dos amigos, devem estar muito alertas, pois quando o paciente com ideação suicida ou tentativa de suicídio começa a melhorar, ele ganha energia para realizar o intuito de atentar contra a própria vida. É um momento de atenção fundamental na prevenção do suicídio, mas em todo o processo os cuidados devem ser contínuos.
Postal Saúde – Por isso é muito importante uma rede de apoio, além do tratamento médico?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – Sim, é muito importante o suporte da família, dos amigos, dos profissionais de saúde e dos serviços existentes na comunidade. Uma referência de acolhimento é o CVV (Centro de Valorização da Vida), que presta apoio emocional e de prevenção do suicídio a todas as pessoas que querem e precisam conversar. O atendimento é feito de forma voluntária, gratuita e sob total sigilo. O serviço funciona pelo telefone 188, por e-mail e por chat 24 horas, todos os dias da semana.
Postal Saúde – Após o primeiro acolhimento da equipe Dasa, como é feito o acompanhamento do paciente fora do consultório médico?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – A equipe segue acompanhando o paciente para verificar se é preciso fazer alguma adaptação no plano de cuidado, de acordo com a resposta do paciente. Por isso o compromisso com o tratamento faz a diferença. Se no plano de cuidado constam sessões de terapia uma vez por semana, a pessoa deve seguir a indicação. Só assim conseguiremos promover um cuidado efetivo, que corresponda às expectativas do tratamento.
Postal Saúde – Existe um protocolo para falar sobre o suicídio?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – Precisamos ser muito responsáveis ao falar sobre o suicídio. O tema dever ser tratado com embasamento técnico, científico e com menos tabu, pois essa postura traz uma sensação de acolhimento para quem está em sofrimento emocional e psicológico.
Postal Saúde – Que mensagem a psicóloga deixa para os beneficiários da Postal Saúde — e para quem nos lê — sobre o Setembro Amarelo?
Juliana Moreira Oliveira Henriques – A autoavaliação e o autoconhecimento são muito importantes para o reconhecimento e o entendimento de que algo não vai bem. Então, oriento que cada um deve se perguntar: “será que eu estou precisando de ajuda?” ou “será que alguém próximo de mim está precisando de ajuda?” Se precisar, não tenha vergonha de pedir, pois todos nós passamos por situações de vulnerabilidade e de sofrimento. Aproveite esse momento para se cuidar e ter uma vida mais saudável. E nós, profissionais da saúde, estamos aqui para ajudar!
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Por: Arlinda Carvalho
Foto: Dasa Saúde