Já ouviu falar de VSR? Talvez não pelo nome – Vírus Sincicial Respiratório – mas é bem provável que você ou alguém que conhece já tenha se contaminado por ele. Segundo Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o vírus é um dos mais comuns e acomete o trato respiratório de crianças, principalmente até dois anos de idade. “Quase dois terços dos casos de sintomas gripais, como febre, tosse e coriza, são causados pelo VSR nessa faixa etária”, diz.

O VSR pode ocasionar desde uma simples tosse até uma pneumonia mais grave, mas a manifestação mais comum é a bronquiolite viral aguda. “No bebê pequeno, produz uma inflamação nos brônquios, diminui o calibre das vias aéreas e gera uma dificuldade de trazer o ar pra dentro do pulmão, deixando-o cansado e com dificuldade respiratória. É quando o médico ausculta e ouve aquele sibilo ou chiado”, explica.

Não é uma doença que costuma ser grave, embora seja extremamente frequente. Fora do grupo de risco, menos de 2% dos bebês são hospitalizados e a taxa de mortalidade é desprezível. Mas leva um tempo até que a criança melhore completamente, o que causa impacto social e econômico na família (por faltas ao trabalho, por exemplo). A criança pode voltar a apresentar os “chiados” no pulmão em resfriados seguintes, o que os médicos chamam de sibilância recorrente. Muitas delas, tornam-se até asmáticas.

Grupo de risco

Uma das características do VSR é que, uma vez contaminado, o paciente não desenvolve imunidade para a vida toda, diferente do que acontece com a catapora, o sarampo ou a caxumba, por exemplo. Segundo o pediatra, no entanto, o corpo cria algum grau de memória, que torna as infecções subsequentes menos graves. As primeiras vezes em que as crianças são expostas tendem a ser as mais perigosas, até porque o sistema imunológico ainda não está totalmente desenvolvido. Quando crianças mais velhas, adolescentes ou adultos são contaminados, a manifestação acontece de maneira muito leve, às vezes até sem sintomas. Ainda assim, essas pessoas são transmissoras. “Como as primeiras vezes são as mais graves, os bebês menores de um ano são do grupo de risco. Prematuros, os que já têm uma doença pulmonar (pela prematuridade ou qualquer outra causa) e os que já nascem com problemas cardíacos têm 16 vezes mais riscos de serem hospitalizados do que crianças nascidas a termo”, explica Renato Kfouri.

Como o bebê pega o vírus?

A transmissão do VSR se dá principalmente por duas maneiras: de pessoa para pessoa, ou seja, o indivíduo que está com o vírus transmite para o bebê ao espirrar, tossir ou falar; ou pela superfície, quando a pessoa espirra, contamina o local, e alguém toca no objeto e se autoinfecta ou infecta a criança ao não lavar as mãos antes de cuidar dele, por exemplo. Atenção: o vírus pode sobreviver por até seis horas em superfícies porosas, como as dos brinquedos!

O VSR é, como a maioria dos vírus, sazonal: circula mais no outono, precedendo o vírus influenza, que tem prevalência maior no inverno. Mas precisamos lembrar que o Brasil é um país muito grande e que, quanto mais ao norte, mais cedo começa. Assim, as regiões Norte e Nordeste apresentam circulação do vírus já em janeiro ou fevereiro; as regiões Sudeste e Centro-Oeste, em março e abril; e na região Sul começa em abril e maio. “É uma estação que dura de três a quatro meses. Existem variações ano a ano, relacionadas ao clima, umidade, pluviosidade e outras condições climáticas”, explica Kfouri.

Como evitar o contágio?

A única forma de prevenção, além dos cuidados de sempre, como higiene das mãos, etiqueta da tosse, evitar aglomerações, aleitamento materno, ou seja, tudo que serve para proteger o bebê de qualquer doença respiratória, é a imunização passiva. “São anticorpos artificiais, como o chamado monoclonal palivizumabe, específico para o VSR, que utilizamos nesses bebês de maior risco (prematuros, cardiopatas e os com doença pulmonar crônica). O anticorpo é injetado via intramuscular na criança, em doses mensais, na estação em que o vírus circula, durante cinco meses. Essa imunização passiva é feita no mundo todo e mostra-se extremamente eficiente para os bebês do grupo de risco”, afirma o presidente do Departamento de Imunizações da SBP.

Essa profilaxia é disponibilizada pelo Ministério da Saúde, gratuitamente, para bebês que nascem com menos de 29 semanas de gestação ou cardiopatas. Desde 2018, entrou no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde e é disponibilizado também pelos planos de saúde, que são obrigados a cobrir o procedimento.

“Ainda não temos vacina para o VSR. Existem algumas em desenvolvimento e uma das mais promissoras é para ser dada na grávida, de modo que ela transmita os anticorpos e proteja o bebê nesse começo de vida”, diz Kfouri.

Guia básico para proteger seu filho de vírus respiratórios, como o VSR:

  • Evite o contato das crianças com adultos que apresentem sintomas de resfriado ou gripe.
  • Evite aglomerações de pessoas.
  • Preze sempre pela higiene correta das mãos: em você, no seu filho e em todos que convivem com ele.
  • Amamente: o leite materno é fundamental

Fonte: Revista Crescer
Foto: Banco de imagens 123RF